sexta-feira, 29 de outubro de 2010

AQUI AMANHECEU


Jailson Freire


Não importa o quanto o deserto seja claro durante o dia. Não importa o quanto o sol escaldante tornam os dias. Nem mesmo a noite é sempre escura no deserto, pois não há lugar melhor para que a lua sua claridade exiba.

É claro que são dias terríveis os que temos que viver quando estamos num lugar tão inóspito como esse. São dias tristes os que alguém precisa viver num deserto. São dias em que parece mesmo não adiantar chamar por socorro; ninguém nos escutaria.

É no deserto que as lembranças de dias felizes vividos outrora parecem estar bem definidos na tela de nossas lembranças. É no deserto que paramos para refletir no quanto éramos auto-suficientes em nossas demandas do dia a dia. Não fosse esse lugar terrível, não seria possível a cura ser estabelecida em nossas almas feriadas.

No deserto da alma parece mesmo ser noite até mesmo nos dias de muito sol. A escuridão do deserto é muito mais que noite sem luar. A escuridão do deserto está dentro da nossa alma.

Faça o que precisa ser feito! Levante-se desse montinho de areia imperfeito... Deixe a mochila velha e suja no chão de sua existência e vá sem nada que possa impedir a sua caminhada até que seja avistada no lugar da areia suja e quente, uma bela e nova estrada.

Esteja certo de que sozinho você jamais esteve neste lugar. No deserto da alma não é lugar de escutar, mas de falar... De abrir o coração e se queixar. No deserto da alma Deus estará atento a cada palavra que temos a falar. Seja sincero e autêntico. Se deixe derramar.

Isso já aconteceu antes:

Um homem que amava a Deus. Que era rico de bens... Que tinha família e tudo o mais também. Seu nome era tão curto quanto a palavra que mais prezava em sua vida e que definia o quanto ele cria. Mas um belo dia – fazia sol nesse dia – As coisas então de bom pra pior mudaria e Jó ao olhar pra si viu que nu e doente passava os dias. Não havia mais esposa, filhos, bois e nem a estribaria... Além de tudo, o Deus que com ele falava todo dia, mudo também ficaria... E lá se vai Jó rumo ao deserto de sua vida... Mas o melhor da história é que do deserto, Jó um dia voltaria... Mas a história desse homem não acabaria até que Deus dá em dobro a Jó o que antes do deserto ele tinha.

Aqui amanheceu!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

VIVER OU EXISTIR?


Jailson Freire


A temperatura não é muito agradável. À noite faz muito frio... Durante o dia o sol é escaldante. Mas o que mais provoca o sofrimento é a solidão desse lugar de angústia e lamento... O tempo parece nunca passar. Parece até que nunca se chegará a qualquer oásis... Não se observa nesse lugar qualquer sinal de árvore e água fresca... Os recursos são ínfimos e a vontade de desistir é imensa.

Pela posição das estrelas deve passar da meia-noite... O sono não vem. O corpo dói... As pernas parecem querer matá-lo. Os pensamentos fervem na mente.

Um pequeno pedaço de papel que ainda resta e a caneta que fora doada como único bem precioso que presta... É necessário escrever o que se pensa de tudo isso... É necessário pôr a mente para refletir ou então dormir.

Tente imaginar o significado de estar nesse lugar... Não é fácil estar num deserto durante tanto tempo...

São as perguntas que não param de ecoar na mente que impulsionam à busca das respostas.

Qual seria a diferença entre viver e existir? Como seria possível viver sem existir? Como alguém pode existir e ainda assim não estar vivendo?

O que parece mesmo é que, existir é estar por aí... Existir é ir e vir. Existir é falar; é agir... Existir é andar sem saber para onde ir. Existir é chorar, é sorrir. Existir é estar aqui ou ali. Existir é acordar ou dormir... Existir é comer e engolir. Existir é estar feliz ou fingir... Existir é comprar, vender e consumir, é construir e destruir. Existir é estar entediado ou até mesmo se divertir. Existir é ganhar, gastar ou pedir. Seriam esses motivos que nos trouxeram aqui?

Existir às vezes até parece legal não viesse o tempo da pá de cal... Existir às vezes é como algodão doce, não fosse o sal do desgosto... Existir também parece, às vezes, um prato de sobremesa, não fossem as péssimas surpresas.

Qual seria então a outra opção oferecida antes da nossa partida?

É claro! Ele ofereceu... Ele nos deu. De graça... Isso sim tem graça... Isso sim tem sabor. Ele nos deu em sua morte a oportunidade do mais que simplesmente existir. Ele nos deu a vida... A que é abundante! Isso sim motiva a continuação da jornada em um deserto. Isso sim planta a clareza de que o melhor pode estar logo ali depois das dunas das incertezas.

Viver é estar num deserto a caminho do que é realmente belo.

Existir pode ser entrar numa caverna. Pode ser entrar no portal do inferno!

O que vai decidir?



"...eu vim para que tenham vida, e a tenham com abundância." (João 10 : 10)