terça-feira, 17 de março de 2009

A MORTE DE UM COPO DE CRISTAL


Jailson Freire

A areia é processada até que um dia é transformada em um belo copo de cristal tão transparente que faz a luz do ambiente tornar-se tão límpida que chega a ofuscar a visão de quem ousa admira-lo. Um objeto majestoso e atraente. Um objeto sofisticado e caro. Um objeto de valor.

Pagamos o preço e levamos para a nossa casa com o fim de usá-lo tão somente em ocasiões especiais.
Ao terminar o seu uso, nos empenhamos ao máximo para que nenhuma mancha grude em suas límpidas paredes transparentes. Depois do banho, ele, o copo de cristal, tão somente ele, pode desfrutar da flanela comprada especialmente para lustrá-lo.

Temos um carinho muito especial àquele objeto. Custou um preço alto.

Procuramos o melhor lugar da estante, o mais protegido para guardar o nosso querido copo de cristal, pois tão logo surja um momento especial, o retiramos do repouso para mais uma celebração inesquecível.

Não é um copo qualquer. Não é um mero objeto. Não se trata de um copo que compramos na liquidação... É um maravilhoso copo de cristal e como tal deve ser tratado diante dos outros súditos objetos.

Um dia, depois de mais um dos raros momentos sofisticados de seu uso. Chega então, o momento do banho em águas morna com detergente igualmente especial e caro.

Como tudo tem seu fim na existência, o copo escorrega e cai ao chão.

O dia logo fica nublado e banhado por um vento sinistro...

Foram dias lindos vividos ao lado dele... Muitas lembranças maravilhosas de celebrações... Mas agora, o copo se foi. O copo quebrou. O copo precisa descansar em paz...

O copo pode ser substituído, pessoas não. O copo pode ser comprado novamente, pessoas são insubstituíveis. Copos de cristal podem ser encontrados em uma loja qualquer, pessoas jamais são iguais. O copo logo poderá ser esquecido, pessoas jamais serão esquecidas.

Pessoas valem mais que qualquer objeto ou coisas; seja um lindo copo de cristal, seja o carro mais caro do mundo.

Pessoas valem mais que pássaros. Pessoas já foram compradas e não estão mais à venda. O preço?

Sangue e cruz!

Mateus 10 : 31

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