quarta-feira, 5 de setembro de 2007

MAS OS CARAS ERAM CHATOS PACA

por J. F.


Me disseram que o homem estava no Monte das Oliveiras e que logo estaria de volta... Naquele dia, madruguei, para não correr o risco de perder o Jesus de vista. O dia começou a amanhecer e percebi que alguém descia a vila... Lavei meus olhos para ter certeza de que via o Jesus ou alguém de sua comitiva... É... Não tive dúvidas. Era ele mesmo. Parecia cansado... Talvez, a informação que me deram de que o Jesus estava no Monte orando fosse mesmo verdade, pois à medida que ele chegava perto, deu pra perceber que estava mesmo cansado... Seu semblante era de alguém que passara a noite em vigília. Não sei de onde e como, do nada surgiu tanta gente... Parecia que o pessoal estava escondido em algum lugar vigiando pra ver a hora em que o Jesus ia aparecer. O fato era que todos, inclusive eu, estávamos ali, seguindo o Homem... Se que sabíamos para onde ele estava indo, mas o que importava? O que realmente estava importando para aquela gente, onde eu me incluía, era que ouvíssemos ao menos um A ou B da boca do Nazareno...Eram sempre palavras muito doces... Não sei ao certo explicar, mas as palavras Dele pareciam arder em nossa alma. Era como se acabássemos de comer o alimento mais gostoso que alguém pudesse preparar. O fato era que estávamos todos, o seguindo, em silêncio e o que parecia era o que de fato acontecia: Ele seguia em direção ao templo, e nós também, afinal, se era para o templo que o Nazareno ia, então era pra lá que nós íamos também... Ele entrou no templo e em um determinado lugar, parou... Neste momento foi um pouco engraçado, pois os que estavam logo atrás Dele pararam subitamente e os que vinham atrás quase que derrubam os da frente... Levei um solavanco que quase me partiu ao meio... O Nazareno começou a falar e o que se ouviu foi um silêncio nunca antes visto por mim em quanto alguém falava... Nem quando o Governador esteve por estas bandas e falou na tribuna para o povo se via tamanho silêncio. Ele ensinava como ninguém... Ficaria ali, o ouvindo por resto de minha vida... O Homem falava e parecia produzir algo extraordinário em meu coração... Via muita gente com um olhar de que sonhava acordado, quando o Nazareno falava a respeito do céu... Era tão real... Ele parecia trazer notícia do céu pra gente... Como se descrevesse com riquezas de detalhes o paraíso perfeito... Mas... Como tudo que é bom, às vezes dura pouco... Os "estraga pazeres" chegaram do nada também... Os santarrões... Os idiotas... Os imbecis... Os chatos paca... Os estraga festa... Apareceram para nos encher a paciência... E ainda trazendo uma mulher arrastada pelos cabelos... Sem um pingo de educação, se colocam em frente o Nazareno e o povo e falam que pegaram a mulher com a boca na botija... Como assim? Humm... A dita cuja, foi pega no ato... Fazendo coisa feia com um outro sujeito que os santarrões parecia querer proteger, pois nem mesmo citaram o nome do infeliz... Bom... Na verdade, não seria tão feia assim a coisa, se ela não fosse casada com um outro sujeito que nem mesmo parecia estar ali... Os chatos pareciam nervosos e doidinho pra pegar um mole que o Nazareno pudesse dá pra eles... Estavam querendo era colocar o Jesus em uma situação de constrangimento perante o povo... Eu bem conhecia aquela corja... Sabia do que eram capazes... Sabia que muitos que estavam ali, não valiam o prato que comiam... E acho que alguém contou para o Nazareno que tipo de gente era aquela, pois ele se agachou e começou a escrever os nomes dos chatos que estavam ale acusando a infeliz... Às vezes ele, o Nazareno, também escrevia os pecados que todos nós cometemos, todos os dias... E confesso que fiquei envergonhado. Mas os chatos não pararam de perguntar ao Nazareno que devia fazer com a dita cuja...Aí o Nazareno levanta-se e diz: “Aquele que não tem nenhum pecado, pegue uma dessas pedras e que seja o primeiro a atirar contra esta mulher”. E se agachou para continuar escrevendo... Que situação constrangedora que os “santarrões” nos colocaram... Que vergonha! Os caras começaram a se retirar um a um até que eu não vendo mais ninguém, me afastei também, se não a galera ia me chamar de “santinho” e eu bem sabia que também sou um pecador... E que por isto eu gostava de ficar perto do Nazareno... Só ele me fazia esquecer das minhas debilidades. Não me afastei tanto, pois um dos meus pecados era ser curioso e eu precisava ouvir o que o Nazareno ia falar para a tal mulher... Não foi muito fácil, mas consegui ouvir o Nazareno perguntar para a mulher onde estava a galera que ia apedrejar ela e ela respondendo que não sabia... O Nazareno diz algo para aquela mulher que me deu vontade de chorar de tanta emoção... Ele diz: “Nem eu te condeno mulher... Vai filha... E não peque mais...”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário