quarta-feira, 5 de setembro de 2007

UM DIA DEPOIS DE ONTEM

por J. F.

Hoje é um dia muito triste e diferente de todos os dias já vividos por mim. Os acontecimentos de ontem sacudiram definitivamente a minha vida... Minha existência.

Foi um dia difícil sim. Não há uma só pessoa que não esteja comentando o que aconteceu por aqui. Nunca mais serei o mesmo depois de ontem. A história se dividiu em duas partes.

Todos estamos diferentes por aqui. Nunca mais vou esquecer aquele momento em que o sangue Dele espirrou sobre mim... Foi no momento em que os cravos transpassaram suas mãos. Eu estava muito perto... Não sei bem como explicar, mas algo muito estranho e maravilhoso eu senti naquele momento. Foi como se uma pedra enorme tivesse sido tirada da minha cabeça... Me senti como se tivesse sendo lavado... Não por fora... Não sei bem... Mas... Sei lá... Acho que minha alma. Aquele sangue era sangue Santo, eu sei... Se não fosse assim, porque me sentiria tão bem, ainda que estivesse vendo algo que foi um horrível...

Senti também, como se o fato dele está ali, fosse um favor que Ele estivesse fazendo a todos nós...

Hoje é sábado e são seis horas da manhã e já se vê muita gente andando pelas vielas. O que não entendo é o fato de muita gente ainda estar como se estivessem anestesiadas com os fatos e com aqueles corpos na cruz...

Junto com Ele, foi crucificados dois indivíduos que aprontaram por aqui e estavam "justamente" naquela agonia interminável por isso. Algumas pessoas parecem insensíveis pelos fatos acontecidos nesta cidade, outras, não conseguem entender como o Nazareno foi parar naquela maldição em que se encontra agora.

O clima aqui está horrível. A final, todos haviam participados de alguma forma, na crucificação do Nazareno.

Não sei bem... Mas a impressão que tenho é que parece ser um dia maldito para uns, mas, bendito para outros. Nunca vi um malfeitor ser tratado como ele foi. Foi terrível. Um dia de extremo horror, e enquanto o corpo, daquele Santo Homem estiver pendurado ali naquele monte, não vai ser fácil esquecer.

Como podiam ter feito aquilo? Como tiveram coragem? Todos estavam de alguma forma impressionados com os fatos. Alguns se sentiam culpados pelo que fizeram, mas para outros, era um dia como outro qualquer.

Eu... Eu também estava lá e não tive se quer coragem de dizer uma só palavra que o defendesse daqueles abutres e não pude aliviar a agonia e a dor daquele Homem bendito. Eu apenas carreguei a parte daquele instrumento de tortura que foi usada para aumentar o tormento dele. Estou chocado! Decepcionado comigo! Eu podia ter feito algo e não fiz... Eu podia ter feito mais do que só carregar aquele madeiro... Ele não conseguiria carregar. Estava muito machucado e seria "humanamente" impossível alguém no estado em que ele estava, carregar aquela parte da cruz tão pesada. Me sinto triste por isto...

Malditos soldados!

Foi uma cena horrível ver aquele que fez tanto bem àquela gente, todo sujo de sangue, depois de ter sido desumanamente torturado, humilhado... O imobilizaram com um cravo tão grande que transpassou seu pulso e se alojou naquela madeira maldita. Foi triste ver a cena se repetir por mais três vezes. Fizeram uso do mesmo tipo de cravo na ficção do outro braço e das pernas do Nazareno. Foi nessa hora que seu sangue espirrou em mim e senti o que senti...

Porque fizeram isto? Não consigo entender tanta crueldade! Depois o levantaram e o pendularam... Não. Não posso continuar... Eu estava lá. Eu consenti. Eu me sinto mal... Sinto-me culpado... Triste... Este dia não vai ser fácil pra mim. Não sai da minha cabeça o que assisti...

Hoje é sábado, um dia onde não costumamos fazer nada por causa da lei. Mas mesmo que pudéssemos trabalhar hoje, nada poderia preencher a tristeza e o vazio de ter participado de tamanha loucura. Ele ainda está lá... Esta parecendo morto... Está morto. Só não quebraram as pernas do Nazareno... Alguns da sua comitiva estavam comentando que Ele havia dito que voltaria. Que ressurgiria dos mortos. É... Confesso que não é muito fácil acreditar nisto, mas depois de ver fazer tantas coisas estranhas e impossíveis ... Bom...

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